É um blog que objetiva a socialização de práticas pedagógicas voltadas a alfabetização numa perspectiva de letramento, bem como textos que subsidiam pais/responsáveis e professores.
inovações
https://pt.slideshare.net/secret/jKWj6syRhMAAYS
domingo, 31 de março de 2013
segunda-feira, 25 de março de 2013
domingo, 24 de março de 2013
sexta-feira, 22 de março de 2013
DEZ NOTAS SOBRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
379
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
DEZ NOTAS SOBRE ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO
TEN NOTES ABOUT ALPHABETIZATION
AND LITERACY
Graziela Giusti PACHANE*
Resumo: O presente texto apresenta algumas reflexões
sobre processos de alfabetização e letramento que, num
país como o Brasil, com alto índice de analfabetismo,
são muitas vezes realizados em programas emergenciais,
quase sempre no âmbito da educação popular. Embora
trate de temas centrais nessa discussão, como conceito
de alfabetização, métodos de ensino, políticas educacionais,
seu foco é a necessidade de maior aproximação
entre os diferentes níveis educacionais, em especial a
pós-graduação e o período de aquisição da língua escrita,
ocorrido na infância ou em projetos de educação de
jovens e adultos. Entre outros aspectos, argumentamos
que a má qualidade da educação no país não se deve a
um setor exclusivamente (seja ele governo, professores,
família ou alunos) e que, portanto, a reversão dessa
situação deve se dar por um trabalho cooperativo entre
essas instâncias, incluída aí a universidade.
Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Ensino de
língua materna. Universidade. Educação Superior.
Abstract: This text presents thoughts on the process
of literacy and critical literacy, which in a country as
Brazil, presents high levels of illiteracy, and to minimize
the situation emergency education programs are created
Although themes such as the concept of literacy, teaching
methods, educational policies are discussed, the focus
of the text is to emphasize the need of approaching
* Doutora em Educação pela Unicamp. E-mail: gragiupa@gmail.com.
380
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
Dez notas sobre alfabetização e letramento
different educational levels, especially post-graduation
and writing acquisition stage. It is necessary to consider
that literacy may occur during childhood or in programs
of youth and adult education. Among other points, the
study suggests that poor education in Brazil is not due
to one sector in particular (government, teachers, family
or students), therefore, the reversion of this situation
demands cooperative work among all sectors, including
the universities.
Keywords: Literacy. Critical Literacy. Mother tongue
teaching. University. Higher education.
O presente texto originou-se de uma fala durante um evento
acadêmico, quando se discutia a participação ou não do grupo de
professores da pós-graduação de uma determinada instituição de
ensino superior em atividades relativas a programas de educação de
jovens e adultos.
Os docentes presentes alegavam que a área de concentração
daquele programa de pós-graduação em educação, bem como sua vocação,
era distante da alfabetização, não tendo porque se integrarem
em mais uma atividade, dentre as inúmeras que realizavam.
Não sem resistência, o grupo terminou por aceitar, por meio da
participação de dois ou três de seus docentes, tomar parte no projeto
de educação de jovens e adultos.
Aquela situação, bem como o embate que se deu sobre a legitimidade
ou não de assumir-se, perante a CAPES, tal atividade,
levou-me a questionar a relação existente entre os primeiros passos
da aquisição da escrita – o que num país com alto índice de analfabetismo
ocorre muitas vezes em programas de educação popular
– e a pós-graduação, posto mais elevado a que se pode almejar na
“carreira” de estudante.
Embora nem todos os programas de pós-graduação em educação
estejam diretamente relacionados às discussões sobre alfabetização,
vejo que a pós-graduação, de maneira geral e especificamente a pósgraduação
em educação, tem sempre algo a refletir sobre o processo de
alfabetização. Afinal, se a pós-graduação pode ser considerada como
o ponto mais alto da carreira acadêmica de um indivíduo, ninguém
381
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
Graziela Giusti PACHANE
chegaria lá (nem nós mesmos nem nossos alunos), se não tivesse passado
pelos primeiros momentos de aquisição da linguagem escrita.
Porém, não é somente por meio desse argumento, já muito
utilizado quando tentamos lutar por melhorias das condições de trabalho
dos professores da Educação Infantil e Ensino Fundamental,
que podemos realizar uma ligação entre pós-graduação e alfabetização:
quantos orientadores não sofrem ao tomarem pela mão alunos que,
mesmo chegando ao topo da carreira acadêmica, não sabem ainda
interpretar um texto, trabalhar a intertexutalidade e a informatividade
e redigir com coesão e coerência? Quantos professores universitários
não se assustam com os erros gramaticais de alunos recém saídos do
ensino médio? Quanto sofremos, quando crianças, para superar o
“medo do papel em branco” na hora de realizar nossas composições
no ensino fundamental?
Seria, talvez, tentador criticar o trabalho da professora, lá atrás,
que só se utilizou da cartilha para nos alfabetizar, que nos colocou
medo quando devolvia nossas redações “antipedagogicamente” rabiscadas
em vermelho, que muitas vezes colocava na cabeça do aluno a
ideia de que ele não sabia português.
No entanto, seria o despreparo do professor a única dificuldade
para que o aluno aprendesse? Quantos somos nós, professores,
pós-graduandos, formadores de formadores, em relação ao número
de pessoas que foram bem sucedidas no processo de alfabetização,
porém não seguiram seus estudos? E em relação ao número de excluídos
num país com as características sócio-econômicas do Brasil?
É válido lembrar que segundo dados do Censo divulgado pela Folha
de S. Paulo, em 2006 o Brasil tinha 14,9 milhões de pessoas que
não sabiam ler e escrever, correspondendo ao nono maior índice de
analfabetismo da América Latina1.
Obviamente, o despreparo do professor não é o único fator. É
certo que muitos professores têm concepções equivocadas em relação
à escrita e à língua portuguesa, adquiridas até mesmo em sua própria
trajetória como alunos e decorrente de crenças que ficaram arraigadas
em nosso sistema educativo por décadas (séculos, talvez).
Todavia, como é de conhecimento geral, não podemos nos
desligar do contexto social mais amplo, no qual nossos alunos e
1 Uma reportagem a esse respeito, realizada pela Folha de São Paulo, pode ser encontrada em
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u332044.shtml>.
382
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
Dez notas sobre alfabetização e letramento
professores se acham inseridos: alunos com fome não aprendem;
alunos que não veem perspectivas de que a educação possa lhes trazer
melhoria de vida, não aprendem; alunos acostumados ao ritmo dos
games eletrônicos não se concentram na aula...
Disso concluímos que se o estudo, se o aprender, não fizer
“sentido” para o aluno, ele certamente encontrará outras prioridades
(trabalhar para o sustento da família, divertir-se com os amigos...), ou
seja, se a educação não tiver um “significado” concreto para o aluno,
haverá sempre algo mais necessário ou mais divertido a se fazer.
Resolver o problema do analfabetismo, da educação, portanto,
não é apenas resolver um problema pedagógico: formar melhor o
professor e aprimorar as técnicas de ensino para que o aluno aprenda
mais e melhor. Nem é somente um problema a ser sanado com
medidas “sociais”, muitas delas paliativas, que contornam, precária
e muito superficialmente os problemas econômicos das classes menos
favorecidas. Menos ainda, é questão de “modernizar o ensino”,
transformando a sala de aula em um “parque de diversões”, de preferência
com geringonças eletrônicas, para que o aluno aprenda sem
fazer esforço e sinta prazer em cada atividade que realiza. Afinal de
contas, aprender, muitas vezes, é bem dolorido...
Melhorar a educação, num país com as características do
Brasil, requer um pouco de cada uma dessas coisas, num trabalho
conjunto, que envolva aspectos pedagógicos, sociais, tecnológicos – e
mesmo emocionais – de nossos alunos e professores. Requer, ainda,
o envolvimento de diversos grupos da sociedade para que possa ser
realizado.
Não adianta generalizar as causas da evasão e do analfabetismo,
dizendo que a culpa foi da professora, que não soube “cativar” seu
aluno; do pai que não deu a devida importância ao estudo do filho;
dos alunos que estão cada dia piores; ou do governo que não se interessa
pela educação e o bem-estar de seu povo. Também não adianta
imaginarmos que as ONGs, as escolas comunitárias, as empresas,
isoladamente, terão o poder mágico de resolver o déficit educacional
do Brasil. Temos que trabalhar juntos, de modo cooperativo, solidário
e não solitário.
Nesse percurso de busca de soluções, soluções urgentes e que
atendam a um contingente enorme de excluídos, são feitas propostas
que, no caminho de sua elaboração e execução, podem dar passos
certos e, outras vezes, errados.
383
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
Graziela Giusti PACHANE
Cabe aí, também, o olhar crítico da Universidade, da academia:
não só o mercado de trabalho pode/deve impor seus critérios para
forjar melhorias na educação básica. Cabe à universidade, também,
num olhar prospectivo, lutar pelas melhorias na base.
Assim, tendo em vista esse contexto, e não com o olhar de especialista
em alfabetização ou políticas educacionais, é que apresento
alguns aspectos para observarmos, discutirmos, refletirmos sobre os
resultados e limites de programas que visam a reduzir o índice de analfabetismo
no Brasil e melhorar o desempenho de nossos estudantes na
leitura e na escrita. Tais aspectos nos permitem, também, abrir uma
discussão sobre o fosso que muitas vezes separa a educação superior
(em especial a pós-graduação) dos demais níveis educacionais, como
se o sucesso de uma não dependesse da eficiência da outra.
1)No aspecto pedagógico, é necessário, entre outros fatores,
que os programas voltados à “alfabetização” do aluno preocupem-se
não apenas com a aquisição da habilidade técnica de “decodificar
letras”. Ler/escrever é muito mais que isso. É necessário o trabalho
significativo com textos que façam sentido na realidade do aluno.
Se isso é válido e salientado na educação de crianças, na educação
de jovens e adultos devem ser tomados com muito mais força! (Aspecto
esse que imediatamente nos traz à lembrança Paulo Freire).
A perspectiva de compreender a aquisição da linguagem escrita a
partir, portanto, da concepção de letramento2, faz-se imprescindível.
É necessário ligar a aprendizagem do aluno a seu contexto, tornar
a aquisição útil no dia-a-dia do aprendiz, rever(ter) a maneira como
são concebidos os preconceitos linguísticos. Aqui cabe a formação,
a atualização, a preparação do professor, para que ele entenda por
que – e como – educar numa nova perspectiva.
2)Ligado a essa perspectiva, é necessário que tenhamos claro
o que entendemos por ser alfabetizado: durante muito tempo essa
concepção esteve presa à ideia de “conhecer as letras” ou de “saber
assinar o nome”; hoje, aproxima-se muito mais da ideia de ler/redigir
um texto simples (um bilhete ou uma receita de bolo, por exemplo).
Lembremo-nos do conceito de analfabetismo funcional. Não podemos,
2 Por letramento entende-se a idéia de que alfabetizar não é apenas ensinar os códigos da escrita,
relacionando os sons às letras, mas fazer com que o aluno compreenda o significado prático da
escrita. Assim, o letramento pode ser compreendido como a condição que adquire um indivíduo
como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais, permitindo-lhe participar
significativamente de uma cultura letrada, possibilitando novas formas de inserção cultural.
(MATÊNCIO, 1994; LEITE, 2001).
384
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
Dez notas sobre alfabetização e letramento
neste aspecto, deixar de nos questionarmos sobre quando termina o
processo de alfabetização – ou de letramento: quando o aluno aprende
a soletrar (conhecer as letras); quando aprende a montar palavras;
quando começa a ler/redigir pequenas frases; quando já consegue
sozinho ler placas, tomar seu ônibus, entender a conta de luz e o
extrato do banco, ou quando consegue interpretar um poema, compreender
um contrato, entender o editorial de um jornal e elaborar
um texto argumentativo (por exemplo uma carta à prefeitura pedindo
providências sobre um aterro)?
3)Na contracorrente do preconceito linguístico, é importante
“respeitar” a variante linguística de nosso aluno, mas não podemos
ficar só nisso. Temos, também, que deixar de compreender o analfabetismo
como “doença”, um mal a ser combatido – como muitas
vezes nos é inculcado – e consequentemente, olhar para o analfabeto
como alguém que precisa ser salvo. Muito temos ouvido dizer que
o alto índice de desemprego se deve à baixa “empregabilidade” dos
indivíduos. Muitos afirmam, com veemência, que a educação poderá
ser a redentora de todos os males da sociedade, como se, ao terem
maior escolaridade (muitas vezes, sem formação, sem educação que
a acompanhe), as pessoas ficassem imunes, por exemplo, ao desemprego.
Contudo, não podemos deixar de considerar os benefícios que
a aquisição da escrita pode trazer aos indivíduos.
4)Em primeiro lugar, inquestionavelmente, a oportunidade de
aprender a ler e escrever causa um impacto na auto-estima do estudante.
A sensação de autonomia e de não ser mais “marginalizado”
numa sociedade letrada como a nossa (em que conhecer apenas um
idioma já está sendo considerado “analfabetismo”), parece ser um dos
“produtos” – se assim o podemos chamar – mais significativos dos
programas de alfabetização3. Coisas que para nós podem ser simples
e corriqueiras, como entender o modo de usar algum aparelho ou
mesmo copiar aquelas pequenas receitas que vêm nas embalagens de
diversos produtos, ler a manchete do jornal em letras bem grandes,
escolher um cartão de Natal, ir ao cinema e entender o último filme
“da moda” (com legenda em português), trazem grande sensação de
3 Como exemplo, podemos citar um trecho do poema escrito por um alfabetizando do programa
“Alfabetização Solidária”, transcrito por Joveliana Amado da Silveira em sua dissertação de mestrado
(Unitri, 2000): “(...) já sei escrever o meu nome.../ sou livre e independente, / já mudou a
minha estória / pois é a melhor escola / que já surgiu na minha frente / uma escola confortável,
/ de grandes realidades, / de amor e de emoção (...)”. (Texto produzido por José e Lucia Manaia
de Souza, Ceará, 29-08-00).
385
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
Graziela Giusti PACHANE
bem-estar, de realização, podemos mesmo dizer de felicidade. É a
perspectiva afetiva da educação.
5)No aspecto social, as vantagens são também bastante importantes.
Talvez, as mais salientadas em todas as propagandas, em todos
os resultados de avaliação de programas dessa natureza e concentramse,
em especial, numa palavra que muitos utilizam, porém que poucos
compreendem com clareza: cidadania. E, nesse ponto, a perspectiva
de alfabetizar letrando é fundamental: ao aprender a interpretar, a
criticar, a se posicionar, o indivíduo tem abertas possibilidades de
compreender melhor a sociedade em que vive e nela intervir.
6)Porém, em todos os aspectos até aqui tratados, não podemos
deixar de fazer um parêntese para lembrar daqueles que, uma vez
mais, ficam pelo caminho: como se sentem enquanto alunos, cidadãos
e pessoas? O que aconteceu a eles? O que acontecerá?
7)Até aqui abordamos apenas um lado do processo: os “alunos”.
E quanto aos professores? O que podem aprender, partilhar,
crescer nessa oportunidade de troca? O mesmo se pode dizer sobre
coordenadores e demais envolvidos nos projetos. Num processo educativo
de verdade, trocam-se saberes, experiências: o aluno desvenda
com o professor os mistérios da escrita e o professor desvenda com o
aluno sua cultura, seus saberes, seu modo de compreender o mundo.
Com o aluno o professor muitas vezes reflete sobre sua própria língua:
por que em português dizemos muito obrigado/a e nunca obrigados/
as? Por que existe mesóclise? Por que todas as proparoxítonas são
acentuadas? Dizer “obrigada eu”, está certo? É verdade que saber
de cor é saber de coração? Se parte da população entende o termo
“entuchicado’ (referindo-se a passar mal por ingestão ou mistura
excessiva de alimentos), diferente de intoxicado (contaminado por
veneno), uma nova palavra não teria sido criada? Se podemos deletar
e compramos no shopping center, se incorporamos palavras como
abajur, sutiã, software e mesmo futebol, por que não incorporar uma
palavra de uso popular? Para tanto, os profissionais que atuam em
programas de alfabetização e em EJA, e com o ensino do idioma de
modo geral, precisam estar abertos e preparados.
8)E quem forma os formadores? Voltamos aqui à Universidade,
espaço de reflexão, de pesquisa, de busca de novos conhecimentos e
novos meios. A universidade não pode ficar distanciada da sociedade
(muitas vezes, é a sociedade que a financia!). A universidade não pode,
também, ficar distante dos outros níveis educacionais: embora méto386
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
Dez notas sobre alfabetização e letramento
dos e objetivos possam ser diferenciados, a educação básica alimenta
a universidade, e esta volta a alimentar a educação, formando seus
professores, diretores, secretários, ministros... Em momento algum
podem se distanciar. E não é necessário forçar a aproximação: ela
existe por princípio.
9)Anteriormente, mencionamos a urgência de que programas
emergenciais, da natureza do Alfabetização Solidária ou do Brasil
Alfabetizado sejam realizados. Como fomos observando até aqui,
percebemos que, por um lado há necessidade de trabalho conjunto,
que integre os diversos degraus educacionais e diversas esferas
da sociedade. Na urgência de dar respostas, programas nacionais,
iniciativas individuais de empresas e ONGs, ou mesmo entidades
religiosas, são de extrema importância: o trabalho de beija-flor apagando
o incêndio é necessário e bem-vindo. Porém, tais iniciativas,
em geral, realizam-se por curto período de tempo, são localizadas,
podem ser realizadas de modo equivocado e correm o risco de sofrer
cortes advindos do vai-e-vem da troca de governos na administração
pública. É necessário, portanto, que programas dessa natureza
sejam tomados de modo sistemático e que não padeçam do mal da
descontinuidade. Se não deu certo da primeira vez, vamos corrigir os
pontos problemáticos, em vez de jogar tudo fora e começar de novo.
Tais programas emergenciais são (e revelam isso) apenas a ponta
de um iceberg, mas sabemos que sem uma base muito ampla e bem
estruturada, qualquer iceberg corre o risco de afundar e se diluir no
mar, sem deixar vestígios.
10)Para que os programas voltados à alfabetização e ao letramento,
emergenciais ou não, sejam, de fato, eficazes, é preciso que
passem por constantes avaliações, seja pelos resultados mostrados
pelos alunos, seja pelos professores que avaliam sua prática, seja
pela sociedade no qual se inserem. Nesse aspecto, é possível que a
perspectiva hoje muito difundida de “professor reflexivo”, a compreensão
acurada de como se realiza e se analisa um processo de
avaliação (institucional ou não), o estudo de como se dá o processo
de aprendizagem do aluno adulto ou de como se aplicam os princípios
da pesquisa-ação ou participante possam oferecer preciosas
contribuições para o aprimoramento da prática e da teoria de uma
temática tão relevante dentro da educação brasileira.
387
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
Graziela Giusti PACHANE
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. Preconceito Lingüístico – o que é, como se faz. 7. ed. São Paulo:
Loyola, 2001.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação
Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil –
Brasília: MEC/SEF, 1998.
CAGLIARI, G. M. O texto na alfabetização: coesão e coerência. Série Alfabetização,
v.1, 1997.
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 1989.
CAMPOS, A. M.; PACHANE, G. G. Diálogos com quem ousa educar, educando-
se. In: 32a. Reunião Anual da ANPED, 2009, Caxambu. Anais da 32ª
Reunião Anual da ANPED. CD-Rom, 2009. v.1. p.1 – 19.
FERREIRO, E. Reflexões sobre a alfabetização. São Paulo: Cortez, 1990.
______. Com todas as letras. São Paulo: Cortez, 1993.
GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes,
1985.
GUIMARÃES, E. A articulação do texto. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
ILARI, R. A lingüística e o ensino de língua portuguesa. São Paulo: Martins
Fontes, 1986.
KLEIMAN, A. B. (Org). Os significados do letramento. Campinas, Mercado
de Letras, 2001.
LARROSA, J. Pedagogia profana – danças, piruetas e mascaradas. 3. ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2000.
LEITE, S. A. S. (Org.). Alfabetização e letramento: contribuições para as
práticas pedagógicas. Campinas: Komedi – Arte Escrita, 2001.
LUCKESI, C. et al. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 8. ed.
São Paulo: Cortez, 1996.
MATÊNCIO, M. de L. Leitura e produção de textos na escola: reflexões sobre
o processo de letramento. Campinas, Mercado de Letras, 1994.
MORAIS, J. A arte de ler. São Paulo: Unicamp, 1996.
OLIVEIRA, A. M. O processo de construção da leitura. Apostila UNESP-IBDepartamento
de Educação – CRC, 2001.
388
Olhar de professor, Ponta Grossa, 12(2): 379-388, 2009.
Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>
Dez notas sobre alfabetização e letramento
OZELO, R. de C.; PACHANE, G. G. Alfabetização e letramento. (Trabalho
de Conclusão de Curso). Limeira, SP: Instituto Superior de Ciências Aplicadas,
2003.
PÉCORA, A. A. Problemas de redação. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
PERINI, M. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 1997.
POSSAS, W. M. Compreensão e domínio da escrita em educação de jovens
e adultos. Brasília: Acerp, 1999.
POSSENTI, S. Discurso, estilo e subjetividade. São Paulo: Martins Fontes,
1988.
______. A leitura errada existe. In: Estudos lingüísticos: Anais de Seminários
do GEL XIX: 558-564, 1990.
RAMAL, A. C. Língua Portuguesa: o que e como ensinar em educação de
jovens e adultos. Brasília: Acerp, 1999.
RIBEIRO, M. K. R.; PACHANE, G. G. O processo de aquisição da leitura
e escrita durante a educação infantil. (Trabalho de conclusão de curso).
Limeira, SP: Instituto Superior de Ciências Aplicadas, 2002.
RIBEIRO, V. M. Alfabetismo e atitudes. Ação Educativa. Campinas, Papirus,
1999.
SILVA, E. T. Criticidade e leitura – ensaios. Campinas, SP: Mercado de Letras:
Associação de Leitura do Brasil, 1998.
THEREZO, G. P. Como corrigir redação. Campinas, SP: Alinea, 1997
VAL, M. da G. C. Redação e textualidade. São Paulo: Perspectiva, 1987.
Enviado em: 10/09
Aceito em: 12/09
quarta-feira, 20 de março de 2013
ALFABETIZAÇÃO NUMA PERSPECTIVA LETRADA: O TRABALHO PEDAGÓGICO NO CONTEXTO DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
ALFABETIZAÇÃO
NUMA PERSPECTIVA LETRADA: O TRABALHO PEDAGÓGICO NO CONTEXTO DAS SÉRIES INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Elizabet
Tramontin Silveira Camargo
Centro
de Atenção a Criança e ao Adolescente Reitor Alvaro Augusto Cunha Rocha –
Universidade Estadual de Ponta Grossa
CAIC/UEPG
GT01- Práticas de Ensino da Educação Infantil e Ensino
Fundamental
... Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é,
antes de mais nada, aprender a
ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa
manipulação mecânica
de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula
linguagem e realidade.
(Paulo Freire)
RESUMO:
O presente trabalho é um relato de uma
experiência que vem sendo desenvolvida na Escola Reitor Alvaro Augusto Cunha
Rocha – Educação Infantil e Ensino Fundamental do CAIC/UEPG. Objetiva Registrar
a prática de Alfabetização numa perspectiva letrada realizada no contexto das
séries iniciais do Ensino Fundamental. Abordada numa perspectiva de
conhecimento significativo e dinâmica contextualizada com os princípios do
letramento, desconsiderando uma prática mecânica e repetitiva. Apresenta-se neste texto uma vivência
enquanto coordenadora pedagógica durante a transição e efetivação do
Ensino fundamental de 9 anos e reflexões sobre o letramento destacando os aspectos
da linguagem escrita como um processo dinâmico e ativo nas práticas sociais em
que a criança vive e convive durante sua vida.
Palavras-chave:
Alfabetização; Letramento; Prática Pedagógica.
INTRODUÇÃO:
Em uma dinâmica
participativa e reflexiva, as ações veem sendo desenvolvidas no Centro de Atenção
a Criança e ao Adolescente Reitor Alvaro Augusto Cunha Rocha - CAIC- UEPG na
Escola Reitor Alvaro Augusto Cunha Rocha Educação Infantil e Ensino Fundamental.
Relata-se a construção
de uma caminhada em um momento desafiador, a entrada da criança com seis anos
no Ensino Fundamental conforme a Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006.
Objetiva-se registrar a pratica de Alfabetização numa perspectiva letrada
realizada no contexto das séries iniciais do Ensino Fundamental.
Sendo assim, faz-se
necessário apontar os motivos pela escolha do título desse relato entre tantos
outros assuntos que permeiam a escola nas series iniciais. Mediante a
efetivação desse direito das crianças, de acesso a escola com qualidade,
respeitando suas características etárias, sociais, psicológicas e cognitivas
(MEC/SEB, 2007, p. 6), acredita-se que alfabetizar letrando, simultaneamente e
indissociavelmente, seja o caminho para inserção da criança no mundo da escrita.
Sem rupturas, numa perspectiva de conhecimento significativo e dinâmica
contextualizada é o que dá significado ao que a criança lê
e escreve, exigindo do professor novas formas de tornar o processo de ensino
aprendizagem prazeroso.
A mudança da duração do
Ensino Fundamental para nove anos, conforme a lei mencionada, e o argumento do
governo para melhores oportunidades de aprendizagem principalmente das camadas
populares, trouxe grandes desafios para os envolvidos com a educação e no
âmbito escolar.
No
início muitas dúvidas surgiram quanto à forma de reorganização prevista pela
lei e poucos esclarecimentos sobre o assunto por parte dos órgãos públicos.
Pelo esforço e comprometimento, foi-se em busca de subsídios para a efetivação
da prática pedagógica e objetivos educacionais para o ensino de 9 anos. Sistematicamente,
aportes teóricos para discussões e reflexões a cerca da inclusão de alunos de
seis anos no ensino fundamental faziam parte do novo cenário da Escola. Criando
assim, um mecanismo de formação docente beneficiando o trabalho como um todo.
Destaca-se a relevância desse processo no que tange a responsabilidade e
comprometimento dos envolvidos em relação à ampliação do ensino de nove anos
para um desenvolvimento qualitativo da criança, respeitando tempo e espaço.
Em
conformidade com as novas diretrizes de ampliação do ensino fundamental para
nove anos reporta a seguir pressupostos que contribuíram nesse processo: documentos
lançados pelo governo para auxiliar na orientação pedagógica sobre o
desenvolvimento curricular e a organização do trabalho pedagógico, para que o
mesmo aconteça sem rupturas, com ensino de qualidade sem antecipar a antiga 1ª
série de 8 anos; (re)organização principalmente em relação ao Projeto Político
Pedagógico contribuindo para que a criança sinta-se segura, num ambiente
acolhedor e propício à aprendizagem sem causar tanto impacto na organização da
ação docente e na transição da Educação Infantil para o ensino fundamental, acontecendo
de forma natural; compreender a concepção de criança, vista neste processo como
construtora, desde o início da sua vida; a valorização da infância e
desenvolvimento infantil onde o perfil da criança de 6 anos é visto pela
imaginação, curiosidade e desejo de aprender de forma privilegiada de conhecer
o mundo por meio principalmente do brincar; o brincar como ferramenta
pedagógica e o brincar espontâneo considerados vistos como diferentes modos de
brincar; a escola com a função da sistematização do conhecimento – da leitura e
da escrita – possibilitando a inserção da criança no mundo, numa concepção de
alfabetizar letrando.
Socializa-se,
também o processo dos encaminhamentos metodológicos da proposta pedagógica do
Ensino de 9 Anos, que vem sendo construído numa postura investigativa, em busca
de novos conhecimentos, suportes para a construção dessa nova prática, durante
os planejamentos realizados em encontros semanais, entre a coordenação e os
professores. Onde o fazer torna-se alvo de reflexões, estudos e planejamentos,
elencando necessidades para os novos desafios, apoiando-se nos princípios e
concepções que norteiam e fundamentavam a prática pedagógica o que garante um
trabalho pedagógico qualitativo promovendo a aprendizagem dos
alunos.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A extensão da duração
do Ensino Fundamental para nove anos, conforme a Lei nº 11.274, de 6 de
fevereiro de 2006, e o argumento do governo que a mudança trará melhores
oportunidades de aprendizagem principalmente das camadas populares, trouxe
grandes desafios para os envolvidos com a educação e no âmbito escolar.
A ampliação do Ensino
Fundamental deve traduzir-se em ganho de qualidade para os alunos, que não
resulta apenas na ampliação de mais um ano escolar e sim em uma reorganização
de toda uma estrutura onde deverá ser respeitado o direito da criança a
infância e a educação. É necessária uma clareza de entendimento, de todos os
envolvidos, sobre a proposta de Ensino fundamental de seis anos, para que a
passagem da criança da Educação Infantil para o primeiro ano aconteça com
tranquilidade sem rupturas, sob um olhar atento às especificidades dessa idade
tenha ela estado na Educação Infantil ou não.
A Educação Infantil não
tem a função de preparar para o Ensino Fundamental devido suas peculiaridades,
o Ensino Fundamental é que terá que se valer de uma proposta curricular que
atenda as características e as necessidades das crianças de seis anos (BRASIL
2006).
Em 2006 o governo
lançou documentos para auxiliar em relação as dúvidas “Ensino de nove anos
orientações para a inclusão de crianças de 6 anos”, com artigos para orientação
pedagógica e possibilidades de trabalho e a reestruturação do Ensino
Fundamental. Entre os artigos, um deles discute a possibilidade de
desenvolvimento curricular para as crianças dos anos iniciais (CORSINO, 2006) e
num outro sugere quatro maneiras para a organização do trabalho pedagógico
(NERY, 2006): atividades permanentes, sequencias didáticas, projetos, e
atividades de sistematização.
Segundo Brasil 2004, a
criança já apresenta condições de simbolizar, compreender o mundo, estruturando
o pensamento fazendo uso de diferentes linguagens sendo necessário a escola
preparar-se para recebê-la sem antecipar o que era trabalhado na antiga 1ª
série do Ensino Fundamental de oito anos.
Destaca-se nos documentos
Federais que a transição da criança da Educação Infantil para o Ensino
Fundamental não significa ruptura e negação do contexto socioafetivo e de
aprendizagem anterior e sim a continuidade e ampliação dessas experiências.
Sugere-se ainda que os sistemas de ensino devam garantir maior aproximação
entre Educação Infantil e Ensino Fundamental em respeito à criança.
Foi preciso uma longa
caminhada para que a criança fosse vista em sua plenitude e na forma de ser e
estar no mundo “... a criança é entendida como construtora desde o início da
vida, do conhecimento, da cultura e da própria identidade... é rica em
potencial, forte, poderosa e competente”.
(MORENO e PASCHOAL 2009 p. 39)
O que fará a diferença
para dar conta dessa criança não é o aumento do tempo de permanência na escola,
mas a qualidade do trabalho que lhe é proposto e desenvolvido que atenda as
especificidades da faixa etária, MORENO e PASCHOAL 2009 p. 43, destacam que a
concepção de criança nas perspectivas da lei nº 11.274/06 de 6 de fevereiro d
2006 “...o perfil da criança de 6 anos se caracteriza pela imaginação,
curiosidade, movimento e desejo de aprender aliados a forma privilegiada de
conhecer o mundo por meio principalmente
do brincar”.
Mediante o exposto, as
brincadeiras podem e devem fazer parte,
uma vez que podem ser contempladas no trabalho com as crianças pois ao
frequentar a escola de Ensino Fundamental, tenha assegurado o seu direito a
brincadeira...
É importante lembrar que a
brincadeira é uma maneira privilegiada de as crianças se expressarem,
representarem, compreenderem, e transformarem o mundo. Portanto educar crianças
pequenas requer que os professores incluam e valorizem os muitos
“brincares” no cotidiano da educação
infantil. Aos olhos das pessoas que não compreendem a importância do brincar
para o desenvolvimento humano, as brincadeiras nas instituições de educação
infantil podem dar a impressão de desorganização, bagunça, por isso, serem
incompatíveis com o processo educativo. No entanto a aprendizagem e organização
nas próprias brincadeiras. Nestas as crianças criam situações que precisam
solucionar, entender, e isso não pode ser menosprezado pelos adultos, principalmente pelos
professores, que tem na brincadeira a
oportunidade de observar e intervir nas interações, propor novas situações,
ensinar novas brincadeiras, potencializar a aprendizagem e ampliar as
experiências (PARANÁ SEED,2006, P. 31)
Acredita-se no brincar como
ferramenta pedagógica de aprendizado, pois com intencionalidade pedagógica e se
o professor estiver atento às atitudes durante o jogo simbólico, aos conceitos
que formula, aos valores que expressa é possível
...aliar
estes dois aspectos, o brincar espontaneamente e o brincar para aprender
determinados conteúdos. Isso significa que as diferentes formas de brincar na
escola de Ensino Fundamental constituem apenas diferentes modos de ensinar e
aprender que, ao incorporarem a ludicidade, podem propiciar novas e
interessantes relações e interações entre as crianças e destas com os
conhecimentos (BORBA, 2006, P.43).
Em se tratando da
construção do conhecimento, a escola não é a única responsável por propiciar a
criança à entrada dela a esse mundo. O contato e o uso da leitura e da escrita
acontecem bem antes das crianças entrarem na escola. É a prática do letramento
sendo vivenciada pela criança desde muito cedo em seu contexto relacional. O
que ocorre, é que essa forma de contato com práticas de leitura e escrita
acontecem sem planejamento, ficando para a escola orientá-los de forma
sistemática, planejada e orientada num processo de alfabetização e letramento
de forma articulada e simultânea, inserindo a criança no mundo da escrita
independente do nível em que se está.
A escola deve favorecer
o contato da criança não só com a escrita, como também de seus usos e funções,
vivenciando essas práticas. Para que a criança se insira de forma plena no
mundo da escrita “é fundamental que a alfabetização e letramento sejam
processos simultâneos e indissociáveis”.
De acordo com Magda
Soares (SEED/PR, p. 26), alfabetização não deve ser feita “... com base em
frases e textos (pseudotextos) construídos artificialmente apenas para servir
ao objetivo de ensinar ler e escrever; ao contrário, esse ensino pode e deve
ser feito a partir de textos reais, textos que circulam no contexto da criança,
para que ela se aproprie do sistema de escrita vivenciando-o como tal como é
realmente usado nas práticas sociais que envolvem a língua escrita.”
Já o desenvolvimento de
competências para a leitura e a escrita, o letramento
... deve ser orientado por
objetivos específicos: familiarização da criança, na leitura e na escrita, com
diferentes gêneros de texto e suas características específicas, manipulação
adequada de diferentes portadores de textos, particularmente livros, utilização
de livros de referência (dicionários, enciclopédias), conhecimento e uso de
biblioteca, entre muitos outros objetivos orientados pelo e para o letramento.
Mas essas atividades podem e devem e podem aproveitar-se de todas as
oportunidades que levem a criança a identificar e a compreender a tecnologia
que possibilita a produção do material escrito com que convive.”
Magda Soares (SEED/PR, p. 26)
Mediante o exposto, já
não se pode ter somente um método para orientar a aprendizagem inicial da
escrita das crianças e sim uma articulação de procedimentos que alfabetizem e
letrem. Aos poucos, ao vivenciarem os discursos orais e escritos as crianças
vão dando forma e sentido, entendo como a linguagem funciona e como produz
sentidos. Assim os alunos aprendem a ler e escrever como sendo uma consequência
da ampliação do conhecimento do mundo letrado.
DESCRIÇÃO DO PROCESSO/EXPERIÊNCIA
“ Se você não voltar a ser como uma criança,
não entrará no reino encantado da pedagogia...
Em vez de procurar esquecer a infância,
acostume-se a
revivê-la com os alunos..”
(Freinet.1996)
Ao contextualizar a
prática pedagógica destaca-se o espaço privilegiado da instituição escolar em
questão. É uma escola de período integral, em que os professores tem uma hora
de planejamento diário e quatro horas de formação/organização semanal. Onde se
acredita que a especificidade da ação educativa é marcada pelo trabalho
coletivo e pelas relações que se estabelecem.
Socializar a prática
pedagógica é imprescindível para a qualidade do trabalho educativo.
Compartilhar saberes científico e experiências vividas é fundamental para a
articulação na Educação Infantil e Ensino fundamental.
É nessa crença que como
profissional da educação comprometida com a aprendizagem escrevo um relado de
como vem sendo construído cotidianamente o trabalho pedagógico no contexto das
séries iniciais do Ensino Fundamental.
Então, numa perspectiva de conhecimento
significativo e dinâmica contextualizada com os princípios do
letramento, onde se desconsidera uma prática mecânica e repetitiva, apresenta-se
neste texto reflexões sobre o trabalho pedagógico destacando os aspectos da
linguagem escrita como um processo dinâmico e ativo nas práticas sociais em que
a criança vive e convive durante sua vida.
Mediante o Projeto
Politico Pedagógico, a matriz curricular da escola deve ser respeitada. Matriz curricular,
objetivos, planejamento, atividade dos alunos devem estar em perfeita sintonia. Os objetivos para o bimestre são levantados
por área de conhecimento, como também as atividades que serão desenvolvidas de
acordo com os níveis de aprendizagem dos alunos nascendo assim o plano de
trabalho para o bimestre.
Com o desafio para mais
um ano letivo, a primeira atitude a ser tomada é a realização de um diagnóstico
de aprendizagem com os alunos, para saber qual o nível de aprendizagem do grupo
a ser trabalhado e também o desenvolvimento de cada criança. Precisa-se ter
noção de quantos alunos diferenciam letra/número/desenho; reconhecem o nome; as
letras do alfabeto; realizam leitura inferencial; como está a construção do
número se identificam e quantificam.
Com os resultados, base
para iniciar as atividades, damos continuidade aos encaminhamentos, traçamos as
metas para o ano letivo tendo como foco principal os níveis de aprendizagem dos
alunos e do grupo como um todo. As atividades que favorecem a aprendizagem dos
alunos, precisam também atender as necessidades específicas. Assim é preciso
definir quais estratégias, quais metodologias, quais seriam os encaminhamentos
necessários, ou seja, uma reorganização das ações.
A rotina em sala de
aula e a prática pedagógica com direção as necessidades dos alunos, e
especificidades da faixa etária, exigiu um olhar especial para o
desenvolvimento das atividades contando com a criatividade e qualificação do
professor que é mediado pelo pedagogo.
O trabalho em sala de
aula passa a ser direcionado com atividades regadas de leituras diárias, situações
problemas com questões do cotidiano dos alunos, desenhos, textos, músicas,
cantigas, brincadeiras, atividades lúdicas, jogos e outros... A escola dá
continuidade ao desenvolvimento da criança possibilitando a ela a compreensão e
o sentido no processo de sua inserção no mundo letrado garantindo seu direito
de brincar.
No início do ano elege-se
com os alunos assuntos de interesse que irão investigar durante o ano letivo. Desta
forma temas significativos, da realidade, se imprimem no dia a dia, delimitando
as formas de organizar o trabalho no tempo e no espaço, e se concretizando
através de atividades realizadas pelo grupo em forma de Projetos de trabalho
(Hernándes, 1998).
Os planejamentos são semanais,
num primeiro momento, acontecem com a coordenação pedagógica do nível, que sempre
prioriza momentos de discussões da fundamentação teórica para as ações em sala de
aula e num segundo momento, os professores fazem os planos diários com as
atividades e recursos que serão necessários. O professor que já conhece o seu
grupo, sabe de seus interesses, tem a autonomia para elencar uma temática que
irá pautar o trabalho com os alunos. Esse tema será reportado durante a semana
ou até que se esgotem as possibilidades de exploração do mesmo. A qualidade do
planejamento, com elaboração detalhada de tal forma que outro professor possa
executá-lo, é indispensável, como coloca Gontijo, 2003p. 40 “não acredito que o
planejamento deva ser uma camisa de força e que não possa sofrer mudanças
durante o seu desenvolvimento, mas se o trabalho educativo, não for orientado
de maneira sistemática, intencional e visando as finalidades determinadas,
poderá redundar em resultados desastrosos para as crianças que precisam de
escola para aprender” (Gontijo, 2003).
Assim, os professores
sabem o que vão precisar em cada aula, como os alunos ficam situados sobre o
assunto que irão trabalhar, pois dele decorrerão inúmeras atividades. O
trabalho organizado dessa forma necessita de uma capacidade de gerenciamento do
tempo por parte do professor de forma flexível e particular. Cada um conduz de
acordo com seu ritmo e também do seu grupo de alunos.
Dessa forma, esgota-se
a problemática da falta de material didático adequado. Pois a produção de
materiais e atividades são pré-elaboradas e selecionadas nos planejamentos.
Nessa dinâmica o professor vai se apropriando de sua prática, envolvendo-se nas
propostas do dia, tendo segurança para que se for preciso altere o planejamento
de acordo com as necessidades. Torna-se inerente a vitalidade no processo, desenvolve-se
o currículo conseguindo envolver os alunos que por sua vez produzem
conhecimento e sentem-se parte do processo. Ainda visualiza-se a estrutura da
aula a ser ministrada e da aprendizagem dos alunos num processo de avaliação
diagnóstica e processual.
O que proporcionou
trabalhar dessa forma foi à resposta obtida mediante a fundamentação teórica
das necessidades e a organização dos planejamentos. O professor passou a
perceber que os alunos estavam avançando e que havia significado em sua
prática. O professor se envolveu realmente nas atividades assim como conseguiu
envolver os alunos; é autor do material utilizado em sala de aula; a avaliação
acontece de forma contínua; os planos de aula dão suporte às necessidades do
foco principal, que é favorecer atividades que propiciem aprendizado considerando
a faixa etária;
Neste contexto, com o
intuito de mudar e (re)organizar a prática pedagógica, a coordenação assume o
papel de mediadora do processo ensino aprendizagem, sendo um ponto de apoio.
Cria laços afetivos com os professores e alunos, sente-se parte do processo. O
contato em sala de aula é direto. Bimestralmente realiza-se o diagnóstico,
atividades de forma lúdica, para observar o avanço e as necessidades de cada
aluno, qual a melhor estratégia para o grupo o que precisam, os avanços e o que
está dando certo. Discute e analisa os resultados nos planejamentos para
compreender o significado dos dados, pois é o reflexo do trabalho. Esse contato
da coordenação direto com os alunos, também em sessões de orientação, faz com
que os dados sejam objetivos e pontuais bem como, apresente hipóteses, para
questionar e ajudar na reflexão da práxis que também é registrada nos conselhos
de avaliação no final dos bimestres.
Nas atividades
selecionadas, destaca-se a prática que vem sendo vivenciada, caracteriza-se em
aspectos de modos de letrar e dos percursos desse processo percorridos pelas
crianças.
Produção da criança após a professora realizar
atividades na linha, no saguão da escola e contar a história “Como a girafinha
Flor fez uma descoberta”; a “Cigarra e a Formiga” Atividades do Projeto TODAS
AS COISAS TEM NOME que o grupo desenvolve. Atividades de leitura com diferentes
portadores de textos devem ser diárias.
A Correspondência
Escolar e uma forma elaborada de comunicação, necessidade de criar contextos
significativos para a criança.
As Listas de
compras ajudam a desenvolver habilidades de uso de leitura e escrita nas
práticas sociais que envolvem atitudes em relação a esse aprendizado.
Atividades
contextualizadas onde o aluno experimenta situações significativas e
diversificadas. Atividade do projeto “Todas As Coisas Tem Nome” valorizando o
aluno favorecendo a autoestima, enfocando atividades sociais de aprendizagem.
Texto
cooperativo realizado pelos alunos no PROJETO FOLCLORE. Ao escrever no coletivo
a criança aprende novos conhecimentos sobre a língua escrita. Também com o uso
do Jogo das letras é fundamental explicitar a criança o sentido das palavras e
sons enfatizando o que ela já possui.
No Diagnóstico possibilita
identificar as hipóteses sobre a língua escrita e com isso adequar o
planejamento de acordo com as necessidades de aprendizagem de cada aluno e do
grupo (a escrita da mesma criança em 6 meses). Propiciar atividades onde a
criança escreva segundo suas hipóteses é fundamental para refletir sobre a
escrita. Dicionário uma proposta para construção de palavras do contexto.
Desenho Livre,
textura gestual excelente meio de verificar o conhecimento. O desenho não só
como liberdade de expressão, mas também, resultado de atividade envolvendo
aspectos cognitivos, representação da realidade, formação de conceito condição
de linguagem e conhecimento construído.
Valorizar o Brincar
como forma de aprendizagem. As brincadeiras são linguagens não verbais pelas
quais as crianças se expressam demonstrando sua realidade e construindo
conhecimento.
Neste contexto, se destaca
ainda atividades de leitura de histórias criadas pelas crianças e registradas
pela professora; levantamento das propostas diárias com a participação dos
alunos; a cultura letrada sobressai com títulos de filmes que são discutidos e
selecionados para assistirem; a prática de bilhetes; problematizações a cerca
de decisões que precisam ser tomadas pelo grupo nas assembleias inicial (manhã)
e final (tarde); construção das normas disciplinares; Jogos pedagógicos;
brincadeiras ao ar livre; a construção do número de forma lúdica com situações
problemas do dia a dia;
Parte do
desenvolvimento das atividades dos alunos refletem as linguagens em que estão
envolvidos, os objetos que o cercam, os discursos que entram em contato, tudo
fala da ampliação do conhecimento e pertencimento a uma cultura letrada. Neste
mesmo sentido as crianças expressam o que experienciam e o que vão construindo
do material que tem contato.
De todo o jeito
escrevendo, falando ou brincando estão produzindo sentidos e aprendendo
diferentes modos de responder as questões do contexto. O professor é o mediador
das interações do contexto sociocultural e cognitivo onde estão inseridos.
Um ponto importante no
processo que não pode deixar de ser mencionado é o envolvimento dos pais. A
família é mobilizada já no início do ano letivo, pois é chamada a fazer parte
do processo para que compreendam a dinamização do trabalho a ser realizado.
Conhecem as professoras e se responsabilizam quanto às necessidades, aos
compromissos, as faltas dos filhos, assim comprometendo-se com a Escola em prol
da aprendizagem. Esse contato continua bimestralmente nas reuniões pedagógicas,
com participação significativa dos pais, e também quando surge alguma
necessidade a coordenação realiza um trabalho de orientação com a família.
RESULTADOS
OBTIDOS/ CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que mediante as
relações do dia a dia a criança cria uma leitura particular de mundo. É nesta
perspectiva que a prática pedagógica deve se efetivar oportunizando níveis
qualitativos de aprendizagem. Mediante novas exigências do atual contexto o
professor precisa ter fundamentação teórica para nortear sua prática em sala de
aula, com bom domínio numa dimensão inovadora e possibilitadora de articulação
com o contexto da criança.
As relações que a
criança estabelece no contexto deverão ser articuladas com a escola visando um
aprendizado e bases qualitativas e dialógicas. Cada um, a sua maneira vai se
construindo.
A coordenação
pedagógica acreditando na construção da prática pedagógica por parte dos
professores mediante os resultados percebidos. O professor das turmas de
alfabetização são muito cobrados seu trabalho é muito claro em seus resultados.
Então precisa saber que é valorizado, tem direito a formação contínua, que a
equipe tem confiança em seu trabalho, que é responsável, e ter retorno de seus
esforços e de seu trabalho.
Muito ainda se tem que
aprender, o que se sabe é que a criança deve ser respeitada em sua
especificidade.
REFERÊNCIAS
BELLO, J. L. de
P. A
Pedagogia de Célestin Freinet.
Rio de Janeiro, 1999 - http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per06.htm. acesso
em 07/01/12
BORBA, Â. M. O brincar como um modo de ser estar no
mundo. In: BRASIL. Ensino Fundamental de 9 anos: orientações para a inclusão da
criança de 6 anos de idade. 2 d. Brasília: MEC/SEB, 2007.
BRANDÃO, C. F. ;
PASCHOL, J. (org.) D. Ensino Fundamental
de Nove Anos Teoria e Prática na sala de aula. São Paulo: Avercamp, 2009.
BRASIL. Lei nº 11.274 de 6 de fevereiro de 2006. Aprova o Ensino
Fundamental de nove anos de duração. Diário Oficial [da] Republica Federativa
do Brasil, DF, 7 de fev de 2006.
CORSINO, P. As crianças de 6 anos e as áreas de
conhecimento. In: Brasil. Ministério
da Educação e Cultura Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações para a
inclusão de crianças de 6 anos. Brasília: MEC/SEB 2006.
DEMO, Pedro. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto
Alegre: Mediação, 2004.
FREINET, C. Pedagogia do Bom Senso. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três
artigos que se completam. São Paulo: autores Associados; Cortez, 1989
(coleção polêmicas de nosso tempo).
_________ Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GONTIJO, C. M.
M. Alfabetização: a criança e a
linguagem escrita. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2003. (coleção
Educação Contemporânea)
HERNÁNDEZ, F. ;
RODRIGUEZ, J. H. Transgressão e mudança
na Educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: ArtMed. 1998.
NUCCI, E. P. di . Alfabetizar letrando: Um desafio para o
professor. In: Leite, S.A.S. Alfabetização e letramento: Contribuições para as
Práticas Pedagógicas. São Paulo: Komedi, 2001.
PARANÁ. Orientações para (re)elaboração,
implantação e avaliação de proposta pedagógica na educação infantil.
Curitiba: SEED, 2006.
________ Ensino Fundamental de 9 anos: orientações
pedagógicas para os anos iniciais. (autores: Angela Mari Gusso...[et al.];
organizadores: Arleandra Cristina Talin do Amaral, Roseli Correia de Barros
Casagrande, Viviane Chulel). –Curitiba, Pr : Secretaria de Estado da Educação
2010. 176 p. ; 30cm.
SOARES, M. B. Letramento e Alfabetização: as muitas
facetas. Revista Brasileira de Educação, n.25, p.78-94, jan/abril. 2003
______________ Letrar é mais do que alfabetizar: http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-alfabetizar-letrar/lecto-escrita/artigos/letrar%20%C3%A9%20mais%20que%20alfabetizar.pdf
acesso In: 03/08/2011
WEBARTIGOS: http://www.webartigos.com/artigos/o-letramento-na-educação-muito-alem-de-‘um-metododo. Acesso In:
Assinar:
Postagens (Atom)